Duas da tarde: sinto-me estranho. Tenho a sensação de que alguma coisa está para acontecer... Tudo está quieto demais.
Fico nervoso. Tenho andado estranho de uns dias pra cá. Antes era aquele vazio total, tomando conta de mim. Agora, é esta sensação de que a qualquer momento posso explodir. Estou cheio!—Tenho vontade de gritar.Lembro que todos me desprezam e querem me ver o mais distante possível. Então, é como se eu fedesse.
Três horas da tarde. O fedor que vem de mim aumenta.
Quatro horas. Nenhum movimento em casa. Lembro-me da desagradável experiência da noite anterior: uma barata correndo por meu corpo que desaparece antes que eu possa gritar, mas que permanece o suficiente para que eu me sinta horrível, e me angustie com a noite posterior.
Cinco horas. Alguém entra em casa, mas me ignora. É como se eu fosse um amontoado de porcaria jogada num canto...
Seis horas. Sinto a tensão no silêncio que paira no ar. Sei que logo alguma coisa vai acontecer...
Alguém me amordaça. Sou arrastado violentamente até a rua. Sem poder gritar, horrorizado, fico imaginando para onde estão me levando, o que vai acontecer comigo.
Ouço alguém assoviar uma música alegre, que me faz ter esperança. E vejo: tudo azul a minha volta!
Porém, descubro que a morte hoje veste outra cor. E a última coisa que penso antes de morrer, é que talvez, um dia, eu possa renascer sob outra forma. Tenho minha última visão.
Tudo azul: os outros sacos de lixo me cercam por toda parte.